Em mais uma postagem em defesa do povo marajoara, a jornalista Franssinete Florezando cobrou transparência nas ações do governo do Pará e Prefeitura de Soure em relação ao prazo de construção do Hospital de Campanha de Soure. “Se o hospital é do governo para atender a todos os municípios do Marajó Oriental, como pode ser a prefeitura de Soure a executora? Por que tanta falta de transparência? Se a iniciativa é boa e correta, por que os dados não são escancarados, como, aliás, é obrigatório?”, revela a comunicadora.
Ainda na postagem, que tem a como manchete “O Marajó clama por socorro”, ela questiona quais os meios que serão empregados na instalação da segunda unidade hospitalar para socorrer as vítimas do novo coronavírus. “Serão equipados, no mínimo, com respiradores, bombas de infusão e tomógrafos, além de médicos, equipes de enfermagem e medicamentos, indispensáveis para salvar vidas”, escreve Franssinete.
Para obter mais informações sobre o andamento da obra, ela informa que, entre outras coisas, entrou em contato com a assessoria do governador Helder Barbalho, “mas só me foi dito que o Estado viabilizou e está agora com a prefeitura a gestão de montagem”, diz em mais um trecho da postagem que este Extra do Pará publica na íntegra.
Confira a nota
O Marajó clama por socorro
O governador Helder Barbalho foi a Soure ontem e assinou convênio com a prefeitura local para instalação de um Hospital de Campanha, em terreno da Prelazia do Marajó, destinado a atender a população da região. Anunciou que serão 60 leitos, sendo 50 clínicos e 10 de UTI.
Acontece que o governo do Estado não divulgou os termos do convênio, não informou o prazo para construção e funcionamento do hospital, nem se os leitos de UTI serão equipados no mínimo com respiradores, bombas de infusão e tomógrafos, além de médicos, equipes de enfermagem e medicamentos, indispensáveis para salvar vidas. Pedi todas essas informações à Secom mas só me foi dito que “o Estado viabilizou e está agora com a prefeitura a gestão de montagem”.
Mas se o hospital de campanha é do governo do Estado e para atender a todos os municípios do Marajó Oriental, como pode ser a prefeitura de Soure a executora? Por que tanta falta de transparência? Se a iniciativa é boa e correta, por que os dados não são escancarados, como, aliás, é obrigatório?
Também enviei mensagem por WhatsApp ao celular do prefeito de Soure, Guto Gouveia, pedindo as informações necessárias, e ainda não obtive resposta.
O povo marajoara está morrendo sem assistência e passando fome há meses. Todos os dias pacientes com Covid-19 morrem esperando helicóptero para remoção e vaga em leito de UTI na capital. Só até a sexta-feira passada, dia 15, 86 pessoas já tinham morrido vítimas do novo coronavírus, além de 750 casos confirmados. Não há tempo para mais demoras.
O imobilismo governamental face à situação gravíssima, apesar do clamor do bispo emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona, do bispo da Prelazia, Dom Evaristo Spengler, e do bispo da Diocese, Dom Teodoro Mendes, é chocante. As medidas tomadas até agora são meramente paliativas, sem eficácia alguma na realidade cruel e amedrontadora.
Tal qual o silêncio geral concretizou o Holocausto, a sociedade não pode fechar os olhos para a extrema pobreza do Marajó, uma área humana e geográfica tão sensível e fragilizada onde as políticas públicas há séculos são de descaso e as decisões pontuais e inócuas. Na zona rural, onde mora 77,8% da população, a grande maioria vive em palafitas, sem qualquer saneamento ou energia elétrica. O banheiro é o rio. Mais de 96% vivem com renda per capita inferior a meio salário mínimo.
Melgaço (foto), o menor IDH do Brasil, já foi notícia planetária por casos de raiva humana confirmados laboratorialmente pelo Instituto Evandro Chagas e pelo Instituto Pasteur, com nove mortes, na comunidade do rio Laguna – vejam só, a área mais pobre do município mais pobre do país -, cuja população vive em condições abaixo da linha da miséria.
No Marajó, não apenas a Covid-19 ameaça vidas. Grassa a hanseníase, doença da fome e da falta de saneamento básico.
“É um povo que perdeu a esperança. A capacidade de reação. Estão entregues à morte. O coração deles está necrosado e isso não é porque não querem ter esperança, mas já levam decênios sendo iludidos, enganados a toda hora. Mesmo diante dessa realidade, nem o Estado, nem a Federação, tomam medidas capazes de enfrentar essa situação”, lamenta Dom Azcona, que chegou no Marajó em 1985, e há 34 anos suplica por ajuda àqueles seres humanos abandonados à própria sorte.
Fonte: Extra do Pará
